Presença

 

                        Fotografia: Marli Reis 

*

Presença 

Transparece na alma leve 

a suavidade das águas 

dos rios,

a sensatez dos ninhos

dos pássaros,

a ternura da brisa 

em dia claro 

de sol.

Do outro lado,

o corpo atento, 

sentado, aguardando o trem

na estação sem cores definidas.

Em volta, o vento

carregando folhas secas, 

girando.

Bastou a leveza se mostrar

para que a chuva caísse 

e os botões de flores 

se abrissem 

e o milho verde pipocasse 

na panela de barro,

virando doce a presença.

Traz a chuva novamente!

Deixa o braço por perto!

Fala das estradas 

por onde o tempo descansou!

Ensina a ouvir as cigarras

ao entardecer.

Caminhos

 

                          Fotografia: Marli Reis 

*

Caminhos 

Meus caminhos pulsam 

procurando cidreira para colher 

antes do anoitecer

a fim de cobrir com sua essência 

os lençóis de algodão.

E ficar debruçada na janela 

contando as estrelas 

refletidas nas gotas do orvalho

é preparo para o encontro 

com a luz do sol 

de brilho intenso.

Meus caminhos pulsam 

com o canto das andorinhas 

ao entardecer

festejando a chegada 

do calor das mãos 

de quem ensinou 

a calar e agradecer.

Meus caminhos pulsam 

em tranquila descoberta 

de que a espera 

de outro caminho 

cessou.

                                    *

A porta

 

           Florianópolis, fotografia: Marli Reis.

*

A porta

No alto, o azul claro do céu,
ao lado, as folhas
suavemente aquietadas.
Uma brisa leve
de gosto de noite se aproxima…
A varanda em permanente calma
aguarda o momento da chegada…
Toda beleza do espaço
para se contemplar,
toda a magnitude do corpo
para movimentar a sala
da alma, límpida, brilhante.
Alegria como prenúncio
de um abraço,
desses que ficam
mesmo quando o passado
já está longe.
O olhar imóvel diante
da lembrança da beleza
vinda do amanhecer
entrando pela janela.
Por dentro do ser,
uma orquestra estava pronta.
O corpo, diante da imensidão
do universo, cala-se,
e diante do mar
com as ondas que vão e vem
balançando a vida, perde-se.
Quando era inverno na alma,
o encontro trouxe o calor do sol
e a certeza de que a porta
permaneceu aberta.

*

Cintilante (2012)

Êxtase

Noite chuvosa. Fotografia: Marli Reis

Êxtase

Verde ou azul,

azul ou quase verde,

uma linha horizontal

 em divisão,

que une e distingue,

balanço suave de espumas

em ondas

brancas.

Sentidos a postos,

olhos no horizonte

parados na linha

que divide

e une.

Ouvidos em prontidão

para o que vem

de fora.

Corpo em pé,

em êxtase,

enquanto o tempo

se movimenta

por duzentos anos

em um segundo.

*

                                                                                          31 de julho de 2006

Sinfonia

 

Desenho com giz pastel seco

Por Marli Reis

*

Sinfonia

Sim, as pétalas se juntam às folhas

verdes de beleza rara.

Sim, a música toca nos galhos

balançando e se tocando de leve

entre si.

As borboletas pousam

no cenário de encantos.

Queria encontrar a cantiga

dos grilos em minha janela

do quarto, lá sinto o cheiro

da chuva, que cessou.

Que doçura! Que vida de leveza!

Quanta sinfonia! Quanta multiplicação

de pães para o espírito

que canta, 

dança, 

ri!

*

Festa

 

Boldo

Fotografia: Marli Reis

*

Festa

Tinha gosto de saudade

esse doce no café.

Devagar que a panela 

é de barro!

Apague o fogo!

Cuidado para não se queimar!

Cheiro bom de arroz com andu! 

Corre menino, sai da chuva!

Eita, não sabe assoprar?

Força no pulmão

que é para essa brasa não apagar!

Colhe o arroz no pé,

junta o feijão

que a panela está fervendo!

É só isso mesmo.

*

Sinais

 

                                                                       Em Fortaleza/CE

Fotografia: Marli Reis

*

Sinais

Entender os sinais

depois que observar

era como pousar o olhar

por anos em contemplação

na solitude dos estados de chuva,

na amplitude de asfalto

visto de bem longe

onde só o silêncio importa.

Caminhos tantos!

Contando cada entardecer

como um degrau de esperança,

e era lindo!

Ficou tudo encantado.

Cada respiração de embriaguez 

de ar gelado

conta.

Nas folhas, o vento.

Nas flores, abelhas em voo.

Chegou o tempo de colher

a saudade de caminhos

não percorridos.

Aprender faz da castanha

o que existe no caju.

Além disso,

descer do altar da razão,

misturar os sentidos

no avesso da bondade

e descobrir o esplendor

do amor

é saber das andorinhas

em seus ninhos,

cantiga serena

de quem despertou

sem dormir.

*

Casulo

 

                                                                 

              Em Fortaleza/CE

Fotografia: Marli Reis

***

Casulo

Confiança é para

ser

nas asas da imagem

do amor caído

nos braços da rainha,

sem garantia de receber

de volta o objeto confiado,

encontrado no canto

da sala do rei,

repleta de felicidade!

Confiança é estrada

com pedras e espinhos

para quem quer

ser.

Confiança é entregar

a liberdade de existir

e errar de novo

com atitude de

casulo.

*

Tempo

                                                      

Trilha Sítio Fundão, Crato/CE

Fotografia: Marli Reis

*

Tempo

Quero perder meu tempo

no teu tempo e me perder

de mim,

porque perder é ganhar,

na tua presença,

sem me importar 

com os muros altos,

quase intransponíveis.

Seguramos nossas mãos

em minha casa

silenciosa de mim,

não solte agora,

é cedo!

Ainda não contei

 as milhas.

E tua luz aquece

mesmo depois

que o dia amanheceu.

Não tem distância que tire

o tempo de me perder

em ti.

 

Tudo

 

Borboletas, Trilha Sítio Fundão, Crato/CE, 

Fotografia: Marli Reis 

Tudo

Tem tudo de lindo e céu 

nessa viagem luminosa!

Tem o abraço prometido,

o silêncio de domingo,

a lua na varanda.

Tem o sol bem cedo.

São tantos presentes 

para enfeitar o dia,

que um dia é pouco

para tanta alegria!

Ainda tem o enfeite

da alma com semente

de amor de espera.

Ainda tem o pincel do tempo 

a colorir de azul

o entardecer 

para aguardar a noite,

mostrar as estrelas

e encantar o amor.

Nesse lugar 

vagalumes dançam 

de asas soltas 

na escuridão,

só param quando encontram

o brilho do olhar azul,

nele tudo é pausa.

Enquanto isso

 

Entardecer em Santana do Cariri-CE

Fotografia: Marli Reis

***

Tudo ali bem perto de você

e eu sem a cadeira

na varanda.

Esse silêncio não é seu

nem meu,

não é de ninguém.

Só sinto o planeta solto

na imensidão do sistema solar,

enquanto acho que haverá tempo

para nós.

É doce esse sonho.

Tragam a mãe de todos!

Esqueçam as noites estreladas!

Esqueçam os cantos dos pássaros

e os ninhos com ovos partidos!

Só não esqueçam do amor!

Esse aquece o tempo de espera,

enquanto o olhar se perde

pela janela

vendo a estrada

sem fim...

O amor

 

Arquitetura de igreja/Crato/CE

Fotografia: Marli Reis 

***

Estava em silêncio 

de igreja 

em prece, sem destino.

Encontrei o amor escondido 

na superfície fria das angústias.

Estava o amor parado

esperando por nós.

Pudesse ver o mar,

o amor estava ali,

pudesse ver o céu,

o amor alcançaria 

o caminho ao teu coração.

Ficou o amor parado na porta,

sem chão.

Enquanto a chuva secava

na pele silenciosa 

da paixão sem abrigo,

sem frio e sem calor.

***

Inesperado

 

São Paulo da janela de um hotel.

Fotografia: Marli Reis

***

Alegria nesse dia,

tanta, fazendo-se abraço.

Dois multiplicado

em olhares, falas, corações.

O humano em gesto,

carinho com a suavidade

do inesperado.

Eu por aqui acreditando,

sendo o que aprendi a ver,

sentindo o reflexo da vida

pulsando.

                                30.12.21

Paraíso

 Eu criei essa imagem.

Fotografia: Marli Reis

***

Estive em paraíso silencioso,

era calmo como uma folha caindo

ao entardecer.

Um paraíso sem o calor

do teu nome.

Com a tua presença

era claridade além dos sentidos.

Deixou de ser paraíso

para se tornar um ninho

capaz de sobreviver ao calor,

era cheio de amor

e o amor bastava.

                                                       30.12.21

Gosto bom

 

Fotografia: Marli Reis

***

Era gosto de fruta doce

esse arrepio do lado direito,

não parecia outra coisa

a não ser a cara

do amor chegando

como sempre faz,

abre as portas 

e deixa o sol entrar, 

estica a corda,

puxa a perna,

desce e torna a subir

não se sabe para onde,

apenas sente,

sente tanto

que esquece o passado

e o futuro.

Tudo tem cor,

tem cheiro

e gosto de vento 

nas asas das borboletas.

                                                         16.12.2021

Recortes

Imagem: As Flores do Atelier

Fotografia: Marli Reis

***

Pedaços de vida

guardados em quadros.

Pedaços do eu

guardados em cofres.

Pedaços de tudo

guardados na memória,

quase inumerável

para o passado

do mundo.

Qual o nome

desse gesto estampado

na curva desse caminho

solto e leve?

É o amor,

refúgio dos bons.

     

                                 Marli Reis, 2015 

Novos ares

Imagem: As Sementes

Fotografia: Marli Reis

***

Passou o frio,

passou o calor,

passou a claridade

de ontem,

escapou pela janela

de ninguém

por essa causa.

Mudou o ar,

o ar do quarto,

o ar da sala,

o ar do quintal.

Novos ares respirantes

num movimento

espiral de cor.

Tem gosto azedo

no prato,

muda o tempero!

E volta a dormir,

que o dia

não acabou. 

O trem

 

Imagem: As Flores do Atelier

Fotografia: Marli Reis

***

É chegada a hora

de dizer amém

aos dias de vento

chegando e soprando

as páginas rasuradas

escritas, para quê?

Olha lá vai passando

o carro de som,

música com cheiro

de melancia.

Não quero mais

essa experiência doce!

Agora o mergulho

é no mar.

Vou fazer as malas

e esperar o trem.

                                   Marli Reis, 2015

Seus pensamentos

Imagem: Os Pássaros

Fotografia: Marli Reis

***

Os homens que pensavam

morreram todos,

deixaram seus pensamentos

por aí

para que outros

pudessem pensar também

os pensamentos 

que fizessem sentido

ou mesmo o sentido

sendo o oposto

do progresso

para o conceito

que deixa a cara

séria

ou sei lá

nem quero pensar.

                                     Marli Reis, 2015 

Sinal verde

 

Fotografia: Marli Reis

Imagem: Fortaleza/CE

***

Insisto na beleza

dos encontros

na mente clara

de dias de sol.

Tudo em silêncio

de música suave

e as pessoas

com asas de anjo

sendo mais que tudo,

ultrapassando a amizade.

As gotas do orvalho,

os pingos da chuva

e a alegria da chegada

agora olhando

a esquina

de braços abertos 

com sinal verde.

                                                Marli Reis, 2015

Pontos

Desenho com giz, por Marli Reis

***

Singular cinza

que supera a hora

do dia.

Quando chegou o inverno

no teu jardim?

Que flores vão se abrir

com tua presença?

Poderia o ar faltar,

mas eu ainda

estaria aqui

com os olhos

em lágrimas

de amor.

                                                                    Marli Reis, 2015

 

Espera

Na praça

 

Fotografia: de um amanhecer em Fortaleza, Marli Reis 

*

As árvores lembram um tempo

de mato fechado.

No parquinho, o sorriso das crianças.

Pelos cantos, as flores 

capturadas em espaços mínimos,

nem merecem, não se importam,

o destino é encantar os olhos

dos desavisados, 

que se apaixonam

suspirando, gemendo e chorando

no vale dos encantados,

desses choros sem lágrimas.

Ainda entardecendo...

Os últimos raios de sol

aquecendo as árvores 

e a pele dos caminhantes. 

Alguns pássaros cantam 

enquanto formigas carregam 

pétalas 

sem pressa.

*

                        Marli Reis 

Vivência em 19/02/2021

Entre amigos

Fotografia: Marli Reis 

 *

Aprender com as chegadas,

receber a alegria de braços abertos, 

esperar o mel de abelhas 

no café,

recriar a sala e o tapete 

para o descanso matinal,

aguardar as estrelas 

enquanto a fogueira assa 

a batata doce 

e o teu olhar é meu,

o meu silêncio é teu

amigo. 

Luz

 

Fotografia: Marli Reis

*

Raio de luz,

chega como um 

raio de luz,

vai conduzindo os objetos,

facilitando a vida;

sabe o que é organizar

em soma, multiplicação;

entende o que se passa

na superfície e além;

deixa tudo translúcido;

presença firme,

pés no chão,

mente aberta,

sentimento generoso;

 sabe onde se encontra

a sabedoria,

já que tudo que existe

de bom e belo

está em seu coração.

                                                 Dedicado a Erondina Batista 

***

Amigas e amigos

 Preservar a natureza, contemplar os ciclos dos frutos da terra, ouvir as cantigas dos rios, que isso possa ser vivido. 

Aqui e agora

Informo que estou disponível para contribuir como psicoterapeuta também no atendimento aos profissionais da saúde da linha de frente na pandemia da covid-19. Não deixe a tristeza evoluir nem permita que a ansiedade permaneça por muito tempo em seu cotidiano ou na rotina de um ente querido.                              Busque ajuda no e-Psi.

Os pássaros

*

Era marrom

seu vestido 

de pitangas

maduras e brancas 

em flor.

Cintilava 

a água 

para os pássaros 

deixada 

na janela 

esperando 

a visita

matinal. 

Banho certo 

espalhando 

amor. 

Alegria na chegada,

asas ao vento 

na saída

dessa festa 

que fazia da noite

 uma pausa 

para recomeçar. 

Marli Reis, 10.09.20

Fotografia: Marli Reis 

 

 

Pico verde

 

*

Apontava para o alto,

pico verde,

folhas ao vento.

Descansa a vista,

descansa a alma

numa atmosfera de

saudade

e frescor de uma manhã

iluminada

pelo amor

constante e seguro,

inesperado e sorridente,

desses que ensinam e ficam 

no passado,

num lugar

na varanda com flores

e folhas verdes

a balançar.

Marli Reis, 06.09.2020

Fotografia: Marli Reis, Guaramiranga/CE

As fases

 

*

Criança que ontem brincava

de azul do céu

a brilhar nos olhos

das tintas de aquarela.

Criança acordada hoje em fase

adulta,

tem os olhos cobertos

no azul escuro das noite

de estrelas.

Criança cresceu, deixou alguns sonhos

no caminho.

Criança solta com asas para voar.

Criança passarinho,

criança montanha,

criança entardecer,

criança molhada na chuva,

criança acordada

vendo o mundo real

sem perder a esperança.

                                               Para André Zezo

Marli Reis, 06.09.2020

Fotografia: Marli Reis 

O sinal

*

Fiquei aguardando o sinal

falado ao ouvido.

Estive esperando os sonhos 

levemente prometidos. 

Respirei o orvalho

enquanto olhava 

o caminho por onde

meus pés alcançariam

a luz em movimento 

de mãos que se conjugam 

sem mais nem menos. 

Fiz um esforço 

para continuar 

em silêncio 

de espera.

Precisei manter a voz

do amor

na lembrança do futuro

reservado ao encontro

nessa noite sem fim.

*

Marli Reis 

Fotografia: MReis

Para o meu bem.
Fotografia: Marli Reis

O sol

*

Estive a te procurar,

encontrei o labirinto

dos pensamentos diurnos.

Atravessei a cidade 

esperando teu olhar 

de insistente leveza, 

encontrei a porta aberta 

sem a tua presença.

O que poderia sentir

diante do reflexo dourado 

no canto da sala?

A saudade

 protegida pelo entardecer

e o sol na manhã seguinte,
sem outra resposta
sem mais questões
sem mais nada. 

*

MReis 

Fotografia: MReis

Fotografia: Marli Reis

Este ser (III)

*

Este ser

(III)

*
Corria sem saber

chegar ao limite,

mexia em caixa

de abelhas

ciumentas,

escorria mel pelos cantos,

o néctar se fazia sagrado.

Quem percebeu

a artimanha do universo

a buscar unir duas partículas

vibrando na mesma frequência?

Nenhum coração

se manteve vigilante.

Tropeçou...

Deitou o corpo 

no chão.

Permaneceu sem entender.

Perdeu o enlevo

do momento faiscante.

Cada um seguiu

sem olhar para trás.

Passou...

                                             MR

Fotografia: Marli Reis, "o processo criativo" (III)

Este ser (II)

*

Este ser

(II)

*

Era para ser um encontro casual,

sem demora.

Era para ser uma hora 

como tantas.

Era para não colorir

as manhãs.

Era para não gritar

por dentro.

Mas de nada adiantou

o cuidado dobrado

da atenção

ao tempo

no presente,

este brincava de se fazer

passado

a cada instante,

revelava uma face

intrigada

dos problemas indissolúveis.

Era um corte 

entre questões

futuras e breves.

Não passou,

mesmo os dias

passando.

Não ancorou 

no cais

o navio de rosas 

da ilha

do amor.

Restou um campo

inexplorado, em abandono.

Não foi tudo, 

ninguém sabe,

não precisa saber.

Saber o quê?

O pouco ou o muito

que ficou

e ainda será.

                                 MR

Fotografia: Marli Reis, "o processo criativo" (II) 

Este ser

*

Este ser

*

Parei na contramão

dos pensamentos 

que me levavam ao labirinto

das paixões,

soltei as amarras do incompreensível,

libertei o sentimento

oco das coisas infantis,

mas não desapeguei

do amor.

Mantive o rumo apontando 

para o eterno,

não desatei os nós

recíprocos,

encontrei o lugar das certezas

dentro do oceano de luz 

e bondade,

vislumbrei o tempo perdido

na falta das pausas,

não havia culpa,

não havia tristeza,

não havia incerteza,

só os mandamentos

nas regras do existir

sem medo

de novos destinos,

outros portos,

nova direção.
Não sucumbi,
neste lugar
foi erguida
a bandeira
da paz.

                                         MR

Fotografia: Marli Reis, "o processo criativo"

Teu corpo (III)

*

Teu corpo 

(III)

*

Sento para ouvir 

os pensamentos em burburinho,

encontro as imagens da tua boca

a gargalhar

sombria e ardente

de pimenta malagueta.

Não foge à luta homem bonito,

salta teu corpo forte

no inusitado da espera 

na parada do ônibus

de volta para casa.

Tua imagem 

perdida na luz

se afasta

quando quer 

se aproximar.

Tem respostas sem perguntas

no teu coração

tranquilo

de gente

que acordou

do sono

de depois de amanhã.

Limpa a vista lacrimejada

na partida,

não é possível rimar 

os dois tempos passados,

o que tem

é o que está na porta

a esperar o relógio

marcar tua indecisão.

                                               MR

Fotografia: Marli Reis, "claro/escuro" (III)