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07/04/2019

Este ser (III)



*

Este ser
(III)

*
Corria sem saber
chegar ao limite,
mexia em caixa
de abelhas
ciumentas,
escorria mel pelos cantos,
o néctar se fazia sagrado.
Quem percebeu
a artimanha do universo
a buscar unir duas partículas
vibrando na mesma frequência?
Nenhum coração
se manteve vigilante.
Tropeçou...
Deitou o corpo 
no chão.
Permaneceu sem entender.
Perdeu o enlevo
do momento faiscante.
Cada um seguiu
sem olhar para trás.
Passou...

                                             MR


Fotografia: Marli Reis, "o processo criativo" (III)

Este ser (II)


*
Este ser
(II)

*
Era para ser um encontro casual,
sem demora.
Era para ser uma hora 
como tantas.
Era para não colorir
as manhãs.
Era para não gritar
por dentro.
Mas de nada adiantou
o cuidado dobrado
da atenção
ao tempo
no presente,
este brincava de se fazer
passado
a cada instante,
revelava uma face
intrigada
dos problemas indissolúveis.
Era um corte 
entre questões
futuras e breves.
Não passou,
mesmo os dias
passando.
Não ancorou 
no cais
o navio de rosas 
da ilha
do amor.
Restou um campo
inexplorado, em abandono.
Não foi tudo, 
ninguém sabe,
não precisa saber.
Saber o quê?
O pouco ou o muito
que ficou
e ainda será.

                                 MR


Fotografia: Marli Reis, "o processo criativo" (II) 

Este ser



*

Este ser
*

Parei na contramão
dos pensamentos 
que me levavam ao labirinto
das paixões,
soltei as amarras do incompreensível,
libertei o sentimento
oco das coisas infantis,
mas não desapeguei
do amor.
Mantive o rumo apontando 
para o eterno,
não desatei os nós
recíprocos,
encontrei o lugar das certezas
dentro do oceano de luz 
e bondade,
vislumbrei o tempo perdido
na falta das pausas,
não havia culpa,
não havia tristeza,
não havia incerteza,
só os mandamentos
nas regras do existir
sem medo
de novos destinos,
outros portos,
nova direção.
Não sucumbi,
neste lugar
foi erguida
a bandeira
da paz.

                                         MR


Fotografia: Marli Reis, "o processo criativo"

06/04/2019

Teu corpo (III)



*

Teu corpo 
(III)
*

Sento para ouvir 
os pensamentos em burburinho,
encontro as imagens da tua boca
a gargalhar
sombria e ardente
de pimenta malagueta.
Não foge à luta homem bonito,
salta teu corpo forte
no inusitado da espera 
na parada do ônibus
de volta para casa.
Tua imagem 
perdida na luz
se afasta
quando quer 
se aproximar.
Tem respostas sem perguntas
no teu coração
tranquilo
de gente
que acordou
do sono
de depois de amanhã.
Limpa a vista lacrimejada
na partida,
não é possível rimar 
os dois tempos passados,
o que tem
é o que está na porta
a esperar o relógio
marcar tua indecisão.

                                               MR


Fotografia: Marli Reis, "claro/escuro" (III)

Teu corpo (II)


*

Teu corpo 
(II)
*

Há calmaria no silêncio,
movimentos de pernas
no caminho;
há silêncio na calmaria,
sem, contudo, movimentos
calmos;
há sorriso de menino
gigante nas atitudes
do vir a ser;
o futuro já se mostrou
sabedor das coisas
sem nexo.
Não adianta querer encontrar
penas de pavão
onde existe a jaula,
a coroa de espinhos ferindo 
lenta
os lençóis na mesa.
Não há pressa na certeza
de tantas negativas
para encontrar
a afirmação do encontro.
Qual seria a probabilidade
desse despertar 
de paixão?
Vamos calcular
e encontraremos
a multiplicação dos pães
no jantar
de dois.

                               MR


Fotografia: Marli Reis, "claro/escuro" (II)

Teu corpo


*

Teu corpo
*

Entrando assim em outra 
vida
sem pedir licença
sem pensamentos
estarrecidos e inalterados,
foi o que restou
desse caminho 
torto,
de curvas
intensas.
Saberia o que é teu
e meu,
não calaria o fôlego
de uma vida só,
afastaria os delírios
às avessas,
sentiria o que o corpo
estava destinado a sentir
não hesitaria
nem um minuto,
se existisse a maldade
em teu ser gentil.
Considera o porvir,
considera o desejo
considera, ainda assim, o silêncio,
e não considera
a escuridão,
as estrelas perdidas
no coração, batendo, 
até não mais bater.

                                           MR


Fotografia: Marli Reis, "claro/escuro"


02/04/2019

Laço



*
Laço

*
Para meu amor
estarei atento
onde o espírito
tem a forma de anjo
onde as palavras
se encontram
dentro do tempo.
Este caso
imensurável de lados
opostos em laço, 
triângulo, pirâmide,
pedra e ar
erguidos no oceano
do teu sorriso
de amor e de alegria
a cantar
no altar
do trigo
que te alimenta
e vive para
te amar
não ultrapassa
os limites 
da tua chegada,
aguarda os passos
em retorno
da tua partida.

                                                   MR, 2010/2019


Fotografia: Marli Reis, "dias de sol"

Suavizante



*
Suavizante

*
Navegava por um mar
de rosas em buquê,
teu sentido vislumbrava
meu querer
tranquilo.
Na relva o reflexo
da imagem das mãos
em aceno,
sentido do tempo
em abandono.
Precisava dessa presença
 suavizante,
gotejante
de felicidade
medida em olhar
em carinho
num leve abraço
de quem encontrou
o amor.

                                         MR


Fotografia: Marli Reis, "retiro espiritual"

Sensação



*
Sensação

*
Tudo conforta
no esforço fácil
de escutar
de falar
de sentir,
viver tudo
que há
no orvalho
na ausência do sol
no néctar
na cor vermelha
da pétala
ao sol.
Ter o que 
possa ver
naquilo que
cria
força, sensação,
esplendor
matizado
no amargo
das rochas profundas
descascadas
nos milênios
da história
enquanto o mundo gira.

                                          MR, 2010/2019


Fotografia: Marli Reis, "as flores"

Pirilampos



*
Pirilampos

*
Sim, é madrugada,
os minutos compartilhados
em sonho
sem acaso
entre rosas 
com espinhos,
pirilampos
após a chuva
calma de verão
e esse sabor
de hortelã
é antes
o teu cuidado
zeloso amor,
porque o que era
antigo permanece
na linha do horizonte.

                                   MR


Fotografia Marli Reis, "aguardando novo ano"

01/04/2019

Aurora



*
Aurora

*
Pensava em você,
desejava correr
mesmo sem saber
nem perceber
que já não era
nosso esse tempo.
O que passou
ficou
em algum lugar
de movimentos
lentos
sem mais uma palavra,
apenas o gosto bom
da beatitude
descomplicada.
Fugiu as intempéries,
acorreu a mim
a aurora perfurmada
de jarmim
dentre outras
assim, assim.

                                     MR


Fotografia: Marli Reis, em dunas

Brisa



*
Brisa

*
Quando tudo mais
disser não
ainda as flores
se abrirão
num abraço
longo com a brisa,
assim mesmo
os pássaros
farão ninhos.
Oh, encherão
de amor
esse lugar,
as sementes
germinarão,
o sol
descerá suave
na linha
do horizonte
e toda palavra
calará, silenciará
diante dos olhos
reafirmando
o mistério da
lágrima fugidia
sem pressa.
                                               MR, 2010


Fotografia: Marli Reis, em Natal