04/06/2022
31/05/2022
Êxtase
Noite chuvosa. Fotografia: Marli Reis
Êxtase
Verde ou azul,
azul ou quase verde,
uma linha horizontal
em divisão,
que une e distingue,
balanço suave de espumas
em ondas
brancas.
Sentidos a postos,
olhos no horizonte
parados na linha
que divide
e une.
Ouvidos em prontidão
para o que vem
de fora.
Corpo em pé,
em êxtase,
enquanto o tempo
se movimenta
por duzentos anos
em um segundo.
*
31 de julho de 2006
20/03/2022
Sinfonia
Desenho com giz pastel seco
Por Marli Reis
*
Sinfonia
Sim, as pétalas se juntam às folhas
verdes de beleza rara.
Sim, a música toca nos galhos
balançando e se tocando de leve
entre si.
As borboletas pousam
no cenário de encantos.
Queria encontrar a cantiga
dos grilos em minha janela
do quarto, lá sinto o cheiro
da chuva, que cessou.
Que doçura! Que vida de leveza!
Quanta sinfonia! Quanta multiplicação
de pães para o espírito
que canta,
dança,
ri!
*
15/03/2022
Festa
Boldo
Fotografia: Marli Reis
*
Festa
Tinha gosto de saudade
esse doce no café.
Devagar que a panela
é de barro!
Apague o fogo!
Cuidado para não se queimar!
Cheiro bom de arroz com andu!
Corre menino, sai da chuva!
Eita, não sabe assoprar?
Força no pulmão
que é para essa brasa não apagar!
Colhe o arroz no pé,
junta o feijão
que a panela está fervendo!
É só isso mesmo.
*
Sinais
Em Fortaleza/CE
Fotografia: Marli Reis
*
Sinais
Entender os sinais
depois que observar
era como pousar o olhar
por anos em contemplação
na solitude dos estados de chuva,
na amplitude de asfalto
visto de bem longe
onde só o silêncio importa.
Caminhos tantos!
Contando cada entardecer
como um degrau de esperança,
e era lindo!
Ficou tudo encantado.
Cada respiração de embriaguez
de ar gelado
conta.
Nas folhas, o vento.
Nas flores, abelhas em voo.
Chegou o tempo de colher
a saudade de caminhos
não percorridos.
Aprender faz da castanha
o que existe no caju.
Além disso,
descer do altar da razão,
misturar os sentidos
no avesso da bondade
e descobrir o esplendor
do amor
é saber das andorinhas
em seus ninhos,
cantiga serena
de quem despertou
sem dormir.
*
Casulo
Fotografia: Marli Reis
***
Casulo
Confiança é para
ser
nas asas da imagem
do amor caído
nos braços da rainha,
sem garantia de receber
de volta o objeto confiado,
encontrado no canto
da sala do rei,
repleta de felicidade!
Confiança é estrada
com pedras e espinhos
para quem quer
ser.
Confiança é entregar
a liberdade de existir
e errar de novo
com atitude de
casulo.
*
18/02/2022
Tempo
Fotografia: Marli Reis
*
Tempo
Quero perder meu tempo
no teu tempo e me perder
de mim,
porque perder é ganhar,
na tua presença,
sem me importar
com os muros altos,
quase intransponíveis.
Seguramos nossas mãos
em minha casa
silenciosa de mim,
não solte agora,
é cedo!
Ainda não contei
as milhas.
E tua luz aquece
mesmo depois
que o dia amanheceu.
Não tem distância que tire
o tempo de me perder
em ti.
13/02/2022
Tudo
Tudo
Tem tudo de lindo e céu
nessa viagem luminosa!
Tem o abraço prometido,
o silêncio de domingo,
a lua na varanda.
Tem o sol bem cedo.
São tantos presentes
para enfeitar o dia,
que um dia é pouco
para tanta alegria!
Ainda tem o enfeite
da alma com semente
de amor de espera.
Ainda tem o pincel do tempo
a colorir de azul
o entardecer
para aguardar a noite,
mostrar as estrelas
e encantar o amor.
Nesse lugar
vagalumes dançam
de asas soltas
na escuridão,
só param quando encontram
o brilho do olhar azul,
nele tudo é pausa.
18/01/2022
Enquanto isso
Entardecer em Santana do Cariri-CE
Fotografia: Marli Reis
***
Tudo ali bem perto de você
e eu sem a cadeira
na varanda.
Esse silêncio não é seu
nem meu,
não é de ninguém.
Só sinto o planeta solto
na imensidão do sistema solar,
enquanto acho que haverá tempo
para nós.
É doce esse sonho.
Tragam a mãe de todos!
Esqueçam as noites estreladas!
Esqueçam os cantos dos pássaros
e os ninhos com ovos partidos!
Só não esqueçam do amor!
Esse aquece o tempo de espera,
enquanto o olhar se perde
pela janela
vendo a estrada
sem fim...
09/01/2022
O amor
Arquitetura de igreja/Crato/CE
Fotografia: Marli Reis
***
Estava em silêncio
de igreja
em prece, sem destino.
Encontrei o amor escondido
na superfície fria das angústias.
Estava o amor parado
esperando por nós.
Pudesse ver o mar,
o amor estava ali,
pudesse ver o céu,
o amor alcançaria
o caminho ao teu coração.
Ficou o amor parado na porta,
sem chão.
Enquanto a chuva secava
na pele silenciosa
da paixão sem abrigo,
sem frio e sem calor.
***